sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Sem nome - 2005

Enquanto eu nao crio nada novo,garimpo minha agenda de 2005...

Sentado na ferrovia,ele contemplava a serra.a neblina suspensa sob a copa das árvores de um verde-escuro intenso.O vento frio em suas mãos pousadas na passarela de metal lhe mantinha imerso em sua angústia.Seu corpo cansado já não agüentava o peso de sua alma,se é que ainda possuía uma.

Os olhos marejados refletiam as densas nuvens,era uma tarde sombria,a chuva começava cair,grossa,gelada,incisiva,cortando-lhe o pescoço;e ele permanecia estático,respiração imperceptível.

O trem surgiu numa curva ao longe,o foco silencioso e delineado de seu farol penetrava no bloco de inércia tensa do ambiente.Se aquela luz fosse dos olhos dela,veriam apenas um ponto imergindo na alva neblina sob as árvores verde-escuro,e talvez nao discernissem de mais um pingo de chuva, grosso.Gelado.Incisivo.

quarta-feira, janeiro 10, 2007

Só um exercício de descriçao.OU "Mostarda"

A noite estava quieta,nenhum rumor na rua deserta.O cheiro da chuva enchia-lhe os pulmões fumantes,e ele ainda podia ouvir as goteiras aqui e ali,harmoniosamente combinadas com o som das pedrinhas sob seus sapatos.
A lua, refletida no negro asfalto daquela viela de calçadas estreitas e vitrinas quebradas,era a única luz além da lâmpada vacilante no pórtico do edifício móbido adiante;como tantos outros ali,naquele que um dia fora um lindo bairro suburbano,repleto de criancinhas correndo e velhos reclamando.
"Número 437".É.Era ali mesmo.Os olhos determinados sob o charllot chumbo lhe davam a certeza.Tirou uma chave solitária do bolso do sobretudo e,momentos depois,estava parado diante uma escada ígreme e estreita.As paredes descascadas eram mostarda,cortadas impiedosamente por rachaduras betumadas.A umidade descia do teto e escorria da janela no primeiro lance.
Subiu, com a serenidade que a infâme profissão exigia.apartamento 12,fim do corredor frio.A chave novamente.O som da tranca abrindo-se ressoava pelo ambiente gutural.entrou.Passos silenciosos.Respiração inaudível."Aquele é o quarto",abriu a porta lentamente e percebeu a cama arrumada e vazia.Sacou a pistola e antes que pudesse terminar o movimento,foi ao chão,morto.Em pé,ao lado do corpo,um homem de pijamas com uma barra de aço nas mãos.
"Assassino!".

domingo, julho 09, 2006

Fevereiro - 2005

E mais uma vez o sol vai embora, como sempre fez e sempre fará, mesmo depois de minha morte.A brisa gelada toca meu rosto, fazendo-o enrijecido.Meu coração lembra saudoso as manhãs de primavera, cheias de vitalidade.Bobagem.Coração é só mais um músculo.
Poderia ficar a vida toda aqui conversando com os últimos raios de sol, fios mornos de luz que anestesiam a dor, dor do ócio desesperador, do tempo perdido, do amanhã sem perspectiva.Mas eles se vão, sutis, à francesa, sem despedidas.O aconchego esvaindo-se por entre meus dedos, diante meus olhos, e a noite silenciosa vem mais uma vez coroar minha existência vazia.

segunda-feira, junho 26, 2006

Toalha Bordada

Sutil, o sangue fluía pela escadaria, ela lavava as mãos, sem pressa.A porcelana encardida do inécio do século agora estava enrubescida.A água acariciava-lhe os dedos, parecia-lhe que a alma mergulhava, dando vida a um lago estático em alguma tarde quente d eprimavera.Há quanto tempo não sentia seu corpo tão leve!
Já se havia passado quarenta e seis anos, e agora que tudo estava terminado, ela perguntava o porquê de ter adiado tanto a felicidade.Por que esperou que seus lindos cabelos castanhos grisassem?Que seus lábios mordazes encrespassem?E os olhos negros, agora fundos e que já se permitiam perder, fitavam no espelho o reflexo da estrada de terra batida, além do vidro opaco da janelinha redonda.
Enxugou as mãos na toalha amarela que ela mesmo bordara, atravesou o corredor, cutucou o braço do finado com a bengala, desceu a escada vagarosamente, abriu a porta e, com um sorriso promissor seguiu pela estrada poeirenta e ensolarada.
A porta aberta, o sangue na escada, a toalha úmida...Uma sexagenária fora-da-lei feliz!

FIM

Bom, eu sempre escrevo sobre pessoas morrendo e tal, nesse dia eu imaginei algo um pouco diferente, sei lá, imaginem uma casa de um senhor rico do inicio do século XX, uma casa sem criados e no meio de um grande nada, onde ninguém passa para visitas, isso e uma senhora reprimida que mata o marido depois de 40 anos.Quer dizer, velhinhas nao matam!XD e, sei lá, ela mata e vai embora, rumo a qualquer lugar, sem arrependimentos, nada.Ninguém vai achar aquele cadáver, mesmo estando ele jogado numa escada de frente pra porta aberta!Não é...lindo?

segunda-feira, junho 19, 2006


Bom, vou postar algumas coisas q eu escrevi há algum tempo...ah, essa sou eu...ou um pedaço de mim O.o

*Se possivel, leia ouvindo Carmem Habanera,Segundo movimento 'L´amour est alguma-coisa' XD


MESA POSTA

A mesa estava posta, um banquete, "apenas mais um simples jantar".A mesa estava posta: Dezenas de pratos,talheres,copos e o candelabro reluzente.A mesa estava posta, e ao seu redor Ladies and Gentlemen, jóias e gravatas, estolas de vison e echarpes de seda ambulantes.

Lá fora automóveis negros, bancos de couro, chauffeurs,luvas brancas.lá dentro a mesa posta!Colher de prata tilintando o cristal da taça, e todos os monóculos de ouro, e todos os anéis de diamantes mirando, sondando,procurando algo pra depois censurar.Verborragia,aplausos,risinhos afetados de bocas lisongeiras,línguas ofídicas e dentes de marfim.A mesa posta, e o cinismo, e a cobiça entrelaçando-se com as mais caras fragrâncias da "velha Europa".

Sim, a mesa estava posta...Por que?Para que todos os paetês e abotoaduras vislumbrassem e comentassem como estava bem-posta.

FIM

Obrigada.

sábado, maio 20, 2006

Chamem a Super-Nanny

O texto a seguir é baseado e fatos reais, até onde sao reais eu nao sei, mas nada foi inventado por mim e, obviamente, os nomes foram trocados para evitar eventuais constrangimentos...

Patrícia era uma idiota,sabe,idiota mesmo, e era mimada, seu pai -que era separado de sua mae e trabalhava com Deus-sabe-o-que- lhe enviava uma fortuna todo mes, ela possuia uma coleçao de Nike Shox, e chorava quando ficava sem dinheiro.Sua mãe, para "suprir as necessidades dos filhos" foi trabalhar fora do país, deixando-os com a avó -que por sua vez largou um pequeno empreendimento para cuidar deles.Mesmo com todos esses esforços,Patrícia e seu irmão mas novo, Vitor, desprezavam as duas.Aos 15 anos,sua mãe voltou ao Brasil porque descobriu que

Patrícia estava fumando maconha...é, voltou para cuidar dos filhos, só que seu conceito de "cuidar" compreendia ficar em casa o dia inteiro oferecendo lanches e regalias aos rebentos, bem como ouvir suas recusas e ofensas.Esta bela família idiota morava em uma mansão, destas cheias de cômodos vazios, e isso era perfeito, pois permitia que cada membro se isolasse num canto e vivesse num universo à parte, Vítor, por exemplo, trancava-se toda tarde numa saleta e ficava vendo suas dezenas de filmes de terror americano.Patrícia, representante de classe, popular como ela só, passava as tardes na internet, conversando e atualizando flogs -quando nao estava na rua ou fumando porcarias.

Talvez porque fosse popular, talvez porque fosse idiota, ela achasse que todos eram seus amigos, foi assim com o traficante que lhe vendeu cocaína pela primeira vez (cocaína que aliás era açúcar),foi assim com o traficante rival a quem pediu que recuperasse o dinheiro (esse era tão amigo que ela até deu o endereço dela pra ele...que roubou sua casa na semana seguinte) e com todos que lhe acenavam na rua.Quando um menino de sua sala morreu, de repente ela tornou-se sua melhor amiga, e isso rendeu a ela milhares de ataques histéricos de choro durante a semana.Essa quantidade de grandicíssimos e chegados amigos dava-lhe a certeza do quão super-legal ela era e de como sua familia era um lixo.

Patrícia não gostava que lhe falassem sobre essas coisas, mas adorava espalhar poraí quantas caixas de Prozac tomava por mês, também adorava evidenciar quão 'gorda e ridícula' era, até onde ela acreditava nisso eu nao sei, mas q ela era um idiota de óculos Pierre Cardin, ah, isso ela era...Como todo filho da burguesia, queria fazer medicina, o que é BEM engraçado pra quem, por sorte nao acabou morrendo por cheirar cocaína sozinha trancada no quarto.E essa história é na verdade só pra dizer como Patrícia é uma idiota.
Alguém chame a Super-Nanny!!

sábado, março 11, 2006

Nada muito relevante

Sentada em frente ao computador eu vejo atraves da janela os predios no centro da cidade, onde mora parte da elite dessa cidade burguesa, eu vejo quao sortuda eu sou, nao digo abençoada, por que isso implica em existirem pessoas nao-abençoadas,e meu Deus nao faz segregaçao. I mean, eu tenho um lugar pra morar, um quarto onde 'guardo' minhas coisas (uau!eu tenho coisas!), uma familia, mesmo que nao seja um modelo de tradicional (e quem liga para o tradicional...), eu estudo numa escola onde, por mais que eu reclame,eu ainda posso me expressar, nao sofro com medo de tiroteios, nao preciso me preocupar se terei o que comer no dia seguinte, tenho acesso ao lazer (sou até sócia de um clube!) e cultura,me dou ao luxo de participar de tres formaçoes musicais -mesmo que nao sejam as melhores, sei outro idioma e posso aprender mais quantos quiser e uma infinidades de coisas que voce, que pode ler isso aqui num blog na internet provavelmente tambem tenha.Mas por que estou divagando sobre isso aqui?Como sempre, eu percebi outra coisa óbvia... Outro dia encontrei uma ex-colega de classe, que por ter reprovado pela segunda vez, faz um desses cursos tipo 'ensino médio em um ano', e de dia trabalha em dois empregos, ela me contou que lhe foi oferecido um outro, onde ganharia mais, só que nesse ela trabalharia o dia inteiro e nos fins de semana.Pois bem, ela já tem 18 anos e nao recebe nem um salario minimo.Graças a Deus ela pretende fazer um curso superior. Percebem onde eu quero chegar?Eu nao preciso trabalhar e estudar, a unica coisa que eu tenho que fazer é aprender, minha mae vai me pagar quantos vestibulares for preciso, tem como me sustentar caso eu vá pra outra cidade, nao preciso escolher um curso definitivo, se eu me arrepender no meio do caminho,posso recomeçar, alguem como ela nao. Na minha sala de aula existem quase 40 alunos, é pouco se comparado a uma escola particular, desses 40 alunos acho que só uns cinco sao filho-único, ou seja, os pais podem dispender mais dinheiro investindo neles, e desses cinco eu tenho certeza que só dois tem permissao de cursar fora da cidade e fazer milhares de vestibulares até passar naquele que desejam, os outros vao seguir profissao no primeiro - e unico - negócio que vier pela frente, gostando ou nao. Nao sei pra voces, mas me soa desesperador! Já perguntaram pra pessoas que estudam com voce há 11 anos no que eles pretendem trabalhar e eles disseram "sei lá, qualquer coisa"?Mon Dieu!Eles nao tem sonhos!Qualquer coisa pra eles está bom!É como se nao tivessem nehum objetivo senao uma fonte de renda qualquer para irem passando a vida e eventualmente encontrando alegria em, sei la, uma festa, ou algo passageiro assim.Nao quero dizer que todas as pessoas deveriam querer um emprego de sucesso, viagens glamourosas ou mesmo reconhecimento, nao é isso, nao falo do sonho consumista, eu falo em olhar pra sua vida - no presente e nao só pro passado- e saber o porquê de fazer o que faz!Tipo, 'eu sou feliz no meu trabalho porque nele ajudo pessoas';'porque gosto de numeros e lá eu calculo o dia inteiro', ou 'nao gosto do meu trabalho tanto quanto queria, mas faço isso porque quero uma coisa específica pra minha familia' e nao só viver pacatamente sem muitas emoçoes uma vida dessas excessivamente estáveis e tranquilas até morrer.Basta, nao consigui me fazer entender e vou parar antes que me comprometa mais, mas se alguém entende o que eu quero dizer sabe que nao se trata de uma visao romantica ou,enfin, o que quer que nao-seja...